Fortuna Crítica

CALEIDOSCÓPIO

O ENIGMA DA PRODUÇÃO DO ESCRITOR CARLOS HIGGIE

A arte, em todas as suas manifestações, sempre apresentou como tema o homem e suas formas de conceber o mundo e a si mesmo. Não é inusitado, portanto, afirmar que os temas mais recorrentes são aqueles que o homem ainda não conseguiu dominar ou compreender: o amor e a morte.

Dessa forma, ao longo da trajetória da arte literária, manifestação que nos interessa aqui de modo particular, cada escritor(a) tentou sob sua perspectiva decifrar esses dois elementos, esses dois princípios que constituem também boa parte da significação de gozo em uma visão mais psicanalítica. Carlos Higgie foi e é, na justa medida, um desses escritores. À sua maneira, muito peculiar, diga-se de passagem, Higgie fala dos dois temas com uma sensibilidade e uma dedicação que tornam cada um dos seus escritos únicos quando lidos na individualidade e, ao mesmo tempo, complementares quando observados no universo de sua produção.

Assim, Caleidoscópio, mostra justamente a complexidade que envolve a morte (seus efeitos sobre o homem, a dor que provoca, os mistérios que a envolvem) e os enigmas do amor, que passam pelos instintos mais primitivos e desembocam num emaranhado de sentimentos contraditórios que ultrapassam, muitas vezes, os limites da razão, da moral, da ética. Ou seja, os textos do autor, aqui coletados, dedicam-se a exploração dos dois temas que movem a literatura e suas mais íntimas e sutis relações.

A primeira parte do livro reúne histórias breves, com finais surpreendentes, que revelam as várias facetas da morte em situações que a trazem como metáfora, como fio condutor para reflexões de ordem mais profunda e, por que não dizer, metafísica. Já a segunda parte, explora o amor claramente materializado no sexo através de relatos erótico-pornográficos e seu vínculo com a ideia de morte através da perspectiva do gozo.

No que diz respeito à segunda parte da obra, embora haja uma resistência para a produção de textos dessa linha no meio literário, conhecida pelos leitores, estudiosos e produtores de arte literária, Higgie consegue lidar com o ainda “tabu” da prática sexual com uma beleza estética que associa harmonicamente o grotesco e o sublime, o animalesco e o espiritual, a dor e o prazer. Como o escritor uruguaio, por sua farta experiência com a literatura, na condição de produtor/criador e na de leitor, sabe das consequências que seu estilo de escrita gera, trabalha, ou melhor dito, brinca com a linguagem, imprimindo-lhe uma plasticidade, uma leveza e, simultaneamente, uma energia e uma violência que fascinam e provocam, que chocam e, simultaneamente, incitam a seguir a leitura, a vivenciar a cena, fazendo-nos parte essencial de sua produção.

Como leitora das obras de Carlos Higgie há alguns anos, posso afirmar: poucos são os escritores, na atualidade, que conseguem lidar de forma tão brilhante com os dois temas apresentados neste livro. Por isso, conhecendo também a modéstia com que encara seu exercício de criação, resta-me deixar que o leitor descubra nesta obra de Higgie o que minhas vãs palavras não deram conta de explicar e pedir que, literalmente, goze cada uma das palavras deste Caleidoscópio.

 

Iara de Oliveira
Doutora em Literatura

CALEIDOSCÓPIO – CARLOS HIGGIE

… chego de novo, outro quarto de hotel, deito de novo, outra cama sem emoção, começo a ler de novo, outro livro repleto, acendo de novo, outro cigarro, tomo de novo, outra dose de rum, silêncio de novo, um conto breve, fatal de novo, como um gancho de direita no queixo:

“Então a beijei outra vez, com ternura sem igual, com paixão incomparável, buscando despertar o desejo adormecido. Ela me rejeitou, olhou-me nos olhos e, reunindo toda coragem que lhe restava, disse que o filho era meu, mas ela não, ela não…”

Assim começa o livro de contos, CALEDOSCÓPIO, de Carlos Higgie. Certeiro, infalível como Bruce Lee.

Você nem virou a página 1 e já está no chão, ela não, ela não… 

Carlos Higgie é uruguaio de Rivera (divisa com Brasil) e brasileiro de Camaçari (Bahia), publicou vários livros, premiado em concursos literários aqui e lá; e seu primeiro livro escrito em português foi “Vento nos Ossos”. Leitura obrigatória para todo leitor que aprecia modos peculiares e sensibilidade da arte da Literatura.

Iara de Oliveira no prefácio de CALEIDOSCÓPIO, afirma que “são poucos os escritores, na atualidade, que conseguem lidar de forma tão brilhante com os dois temas apresentados neste livro” (amor e morte) e vai certeira na descrição do autor e sua obra: “*…brinca com a linguagem, imprimindo-lhe uma plasticidade, uma leveza e, simultaneamente, uma energia e uma violência que fascinam e provocam, que chocam e, ao mesmo tempo, incitam a seguir a leitura, a vivenciar a cena, fazendo-nos parte essencial *…”.

“O tempo é longo e destrói os caminhos, explode  as pontes, lacra as portas: não há retorno. Sobra um manto de silêncio e desesperança. A cidade vai me engolindo, porém não me mastiga, simplesmente me devora, deixando-me deslizar por seu ventre escuro, úmido, asquerosamente morno. Não cravo minhas unhas, não luto, passo sem deixar marcas nesta cidade de merda.”

Amor e morte são os temas deste livro, temas já tratados por diversos autores mundo afora, mas o que faz a diferença em CALEIDOSCÓPIO é a beleza estética que “associa harmonicamente o grotesco e o sublime, o animalesco e o espiritual, a dor e o prazer” (Iara Oliveira).

O livro está dividido em duas partes, a primeira com contos curtos, chamada pelo autor de: “As coisas simplesmente breves”; e a segunda com contos maiores, chamada de: “Relatos francamente eróticos beirando de leve o pornográfico”. Cada texto deste livro tem vida própria, mas o conjunto dos textos também forma outras vidas interligadas e o autor adverte: “[…] relatos proibidos […] para críticos amargurados e extremamente preocupados com o destino das Letras, […]”

Ao terminar de ler, e ainda vivendo a ressonância de CALEIDOSCÓPIO, eu misturei as coisas que Jamil Snege disse certa feita, e então, eu disse junto com Jamil Snege que: as palavras são como demônios de quinta categoria, como aqueles inventados por Guimarães Rosa nos redemoinhos, são seres terríficos, e o “que é o escrever senão uma tentativa vã, desesperada, de exorcizar esses demônios e arrancar deles um sentido?”

“ […] , em frente a essa penteadeira que sequer é a minha, com objetos tão femininos quanto os que eu tenho; e minha pele branca, refletindo-se em ocre estranho no espelho, excita-me e me instiga a mergulhar mais nessa nova parte de mim. Nessa parte intocada a que você jamais pôde chegar…” 

CALEIDOSCÓPIO exorciza muitos demônios, por isso é excelente livro, e Higgie, excelente escritor. 

E não será nossa vida o tempo da Leitura? Pergunta Ernesto Sabato. E não será nossa vida nossa quase morte? Pergunta alguém. E não será, este livro e este escritor, dos melhores artistas que a literatura pode contar? E não será nossa vida o gozo?  , um convite para o prazer, para a vida, deslocamentos constantes, apago um cigarro de novo, outra vez o cinzeiro, desligo a luz, outra vez o abajur encardido, arremesso CALEIDOSCÓPIO na parede, outra vez um livro incrível, penso em sair andando, outra vez essa vontade de andar, espanto “de vez aquela sombra de nostalgia que começava a subir pelas […] pernas, tomando conta de tudo”, outra vez Higgie

 

Teodoro Balaven, escritor.
Comentário sobre o livro Caleidoscópio (In Bula de Tabaréu).

NEBULOSO LOSANGO

Quero recomendar a leitura desse livro com a satisfação de quem descobre, numa viagem, um restaurante novo que serve manjares de sonhos, salpicados com temperos de palavras e ideias absolutamente saborosos! Não é um livro para passear embaixo de axilas ou enfeitar o criado-mudo, é para ser devorado com fome! 

Meu autógrafo na primeira página diz: “Esse romance meio maluco tem a cor, o tom e o sabor de outra época”. Ninguém melhor que o próprio autor para definir sua obra. Não tente adivinhar o porquê do nome, não precisa. No primeiro parágrafo é explicado. A regra três já foi exaustivamente explorada no cinema, na música, nos divãs. O triangulo amoroso é banalizado, está gasto e démodeé. Mas é a primeira vez que topo com um losango depois do Quatrilho. 

Esse romance surpreendente trata de emoções, delírios esquizóides e desejos de dois homens e duas mulheres. O mais prazeroso não é tentar entender suas possíveis combinações entre os quatro amigos, o que é fantasia e o que é realidade, mas deleitar-se com a forma como foi escrito, seus temperos, onomatopeias. Não há conversas epidérmicas, são “autodiálogos” elaborados, que mostram a loucura que há em cada um de nós, que tentamos mascarar com o verniz da educação e etiqueta social. 

Desde Machado de Assis e seus solilóquios não degustava uma obra com tal satisfação! Andava com fome de uma leitura nutritiva como essa,  alimento de primeira para os neurônios. O uruguaio Carlos Higgie tem um talento surpreendente e uma intimidade libidinosa com o vernáculo! Há personagens que são comuns, como apenas “um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”. Numa época difícil de caudilhos. Mas a realidade passa a ser pálida se comparada aos matizes infinitos das cores das paletas dessas personagens, num folhetim louco. Fogem da monótona e monocromática realidade porque na cabeça das personagens há um thriller! Permita-se seduzir pela loucura desses quatro, pelo magnetismo que os atrai um ao outro. 

É literatura da melhor qualidade, que serve como um convite para verbalizar suas próprias fantasias. Boa leitura!

 

Barbara Saldanha Paz
Escritora, jornalista, crítica literária

NEBULO LOSANGO

OS LOSANGOS DE CARLOS HIGGIE

Alucinação. Delírio. Fantasia. Sonho. O que move o ser humano quando a realidade é dura demais? Qual a fronteira entre o sonho e a realidade? Quais os limites entre a loucura e a sanidade em tempos cujas fronteiras entre esses dois elementos parecem inexistentes? Essas e outras questões são inspirações para a escrita ficcional de Carlos Higgie.

Outra vez, Higgie lida com o que há de mais obscuro na natureza humana, trazendo à tona o gozo, o sofrimento, o anúncio da morte (ou o fim?), ressignificando cada um desses sentimentos ao transpô-los para a arena da ficção. Neste novo romance, ambientado em um tempo de repressão e cerceamento de direitos, em uma ditadura que paira entre as muitas que a história registrou e as tantas que metaforicamente nos circundam, os delírios, as frustrações e os fortes laços de amizade unem vidas, imaginações, ideologias.

É a grande habilidade desse escritor, já consagrado por seu estilo e talento, que transforma os anseios humanos, os medos, as dores, os devaneios, o gozo, em campo de atuação de suas personagens, perpassadas, todas, pela realidade que oprime e pela fantasia que exorciza fantasmas.  É nesse entre-lugar que vivem Marcelo, Dóris, Domingos e Ivone. Quatro amigos, unidos e, paradoxalmente, separados pelo cotidiano, quatro vidas marcadas pelo contexto em que vivem e pela História que a cada um marca de forma profunda e irreparável. Cada um deles representante de si e do outro, do interior e do exterior, da razão e do delírio, ligados por um fio que os conduz pelas tramas da ficção em cujo fim se encontra a mente fértil e brilhante de Carlos Higgie.

 

Iara de Oliveira
Doutora em Literatura

O IMPORTANTE É SER PERGUNTÁVEL: NEBULOSO LOSANGO

Em novo livro sobre sexo e sexualidade, o escritor Carlos Higgie, romanceia um Nebuloso Losango, onde descreve a trama de quatro amigos, para quem apenas o amor não basta; e que para fazer sexo e sentir a sexualidade é preciso, sem medo, encarar os sentimentos fortes. 

“O losango ou o quadrado que nos unia e separava parecia instável. Algo ou alguém estava desequilibrando, quebrando a ordem natural das coisas. Dóris era a rainha, sedutora, Marcelo seu adorador incondicional, Domingos seu admirador eventual e Ivone, quase sempre, uma simples coadjuvante naquela história.”

Fantasias eróticas fazem parte da vida sexual e quando o casal as compartilha, torna o sexo mais satisfatório. Muitas vezes, tudo o que é idealizado seduz mais. E ao ler Losango encontramos as fantasias eróticas dos personagens e as suas experiências à procura de justificativa para seus atos. 

“O que ele não sabe é que agora, neste preciso instante, estou pronta para ele, disposta a entregar-me de corpo e alma, disposta a realizar suas fantasias mais loucas, disposta a ser uma mulher entre todas as outras.”

A sexualidade é desejo de dar e receber palavras, olhares, risos, carícias e atenção. As atitudes, as crenças e os conhecimentos sobre a sexualidade são transmitidos, por vezes, como algo indecente, pecaminoso e perigoso. Mas, esse romance de Carlos nos mostra a importância do desenvolvimento dos personagens, que com o tempo varia de uma sociedade para outra. Isto é, a sexualidade é natural, porque necessária a todos, e cultural quando acreditamos sobre o que nos foi ensinado. Tudo é possível numa relação em que pessoas se sentem atraídas e se envolvem calorosamente em múltiplas práticas sexuais. 

“Usam umas blusinhas soltas, bonitas, sensuais, que mal cobrem os seios. São só uns tecidos leves, fáceis de levantar e descobrir as colinas deliciosas, macias, duras, sem sutiã, sem proteção, esperando as mãos libidinosas que chegam ávidas de sensações”

Na realidade tudo é digno de respeito, exceto quando causa sensação desagradável de dor e angústia… 

“Ela tentou reclamar, mas ele sorria e dizia que estava tudo bem, que só queria beijá-la sem olhares curiosos ou acusadores, que só queria abraçá-la um pouco, sentir seu corpo maravilhoso, sua pele macia e doce…”

Percebemos no romance que o que é considerado “normal” muda com o tempo, de acordo com a moral vigente e varia em diferentes culturas, onde os encontros são a razão para os sentimentos, assumindo o controle do corpo e decidindo sua própria condição.

“Com certeza Raquel entrava no quarto sorrindo… Deixava cair os livros no chão, fechava a porta e se encostava, sensual, nela. Lorenzo, os olhos prenhes de desejo caminhava até ela. Trazia nos lábios, nas mãos, todo o desejo do mundo…”

Nebuloso Losango é literatura que tem como meta fazer com que os leitores se defrontem com uma análise dos aspectos moral e sócio-psicológico da sexualidade. Proporciona reflexão sobre o respeito, amor e como se dá a atração e a união sexual. Quando falamos em relações amorosas e sexuais, sobre a sexualidade, o importante é sermos perguntáveis, ou seja, podermos explicitar nossas vontades e desejos, em relação a nós mesmos e aos parceiros.

 

Tânia Du bois

CUMPLICIDADE E DESEJOS AO REDOR DE UMA MESA

NEBULOSO LOSANGO

Com uma narrativa rica, cheia de detalhes, descrevendo as coisas como se escrevesse  poesia, uma sutileza apimentada de erotismo e muita chuva fina e vento, Carlos Higgie nos apresenta: Ivone, Marcelo, Dóris e Domingos, quatro amigos que sempre ao redor de uma mesa são cúmplices dos seus dramas diários, e ao mesmo tempo omitem assuntos, escondem desejos e fantasias.

O livro me fez relembrar muito de dois lugares em Porto Alegre, a Cidade Baixa e o Bom Fim, para ser mais preciso, a Lancheria do Parque, que sem dúvidas, acolhe até hoje, diariamente, amigos como esses da ficção, e talvez por lembrar de várias situações parecidas quando lia algumas páginas.

As personagens do livro  fazem recordar de momentos comuns na vida de solteiro, principalmente da turma de amigos também solteiros, onde as ideologias e as intimidades são discutidas entre copos de cerveja e cafés, mas no livro, o desejo que os amigos sentem um pelo outro desencadeia uma trama instigante.

Um final que parecia previsível, mas é contornado por situações frustrantes, sustentando na ficção o amargo drama de várias histórias, igualzinho de alguns amigos perdidos por aí na vida real, daqueles que ficamos anos sem ver e quando reencontramos é tudo tão diferente.

 

Tiago Melo

DESENHO TRISTES PALAVRAS

É preciso ter imaginação requintada para desenhar tristes palavras e mostrar que a vida imita a arte, como em Carlos Higgie, “Relato amarelo de uma jovem que envelheceu pensando que um dia, quando a coragem inflasse seu ser, saltaria da janela para o fundo do poço e veria o outro lado, o verdadeiro rosto do mundo.” Ele desnuda a cena de amor com palavras agonizantes, inquietas, que, por vezes, não conseguimos dizer. Revela a vida em cenas que formam o jogo de metáforas com as sentenças, ao anunciar o outro lado da história, entrelaçando e rasgando o silêncio na tristeza. Nas palavras de Carlos Pessoa Rosa, “… sem o vento / o silêncio devolve ao poeta o deserto / das ruas…”

          A palavra triste pode conter diferentes significados, com interferência nos mistérios dos sentidos que prendem os elos da vida e espalham agonia ao descrever a fantasia em realidade . Apenas o escritor é capaz de desenhar tristes palavras, como oferta mágica ao lançar olhares sobre o coração que caiu na rotina da emoção e se esvaiu ao vento, como Pablo Neruda, no livro Posso escrever os versos mais tristes… Gilberto Cunha revela “Acima de tudo, aceitar que não é a razão que nos leva à ação, mas a emoção. A emoção fundamental que define o ser humano é o amor”.

O curioso é que pode ser a lembrança, o cheiro, o local; qualquer sentimento pode despertar o escritor e torná-lo especial no entretenimento, mesmo desenhando tristes palavras, assim, em Carlos Higgie, para quem “O tempo é longo e destrói os caminhos, explode pontes, lacra as portas: não há retorno. Sobra um manto de silêncio e desesperança.”

O autor constrói a sua imagem e a demonstra no texto que pontua sua obra. Igualado à tela do pintor, onde várias mãos de tintas, em pequenos gestos, mudam a história. O atrito na vida, os encontros e os desencontros amorosos, no compreender-se e compreender o mundo, são motores que levam o poeta a desenhar palavras tristes; ele se reescreve e impressiona em seu significante; jogo semântico que com plasticidade cria a pluralidade dos sentimentos, tal nas palavras de Augusto dos Anjos, “O homem por sobre quem caiu a praga / Da tristeza do Mundo, o homem que é triste / Para todos os séculos existe / E nunca mais o seu pesar se apaga!”

Desenhar palavras tristes significa conquistar a palavra em si, registrar o fatos decorrentes dos atos, e usar da linguagem singular e própria no panorama dos sentidos, como em Sonia Regina, “… escreves em minha pele, já vento, / sopram os teus dedos no meu corpo, / em meus lábios desenhas o sentido…”

 

Tânia Du Bois

O EXERCÍCIO DA LIBERDADE

            “A cada giro de espelhos, / muda o vitral / da vivência. /

            Não permanece a figura. / Nenhum desenho regressa.”

                                                                           (Helena Kolody)

 

Todos querem amar e ser amados. Importante é criar situações em que fique evidente que conseguir controlar as emoções ajuda a libertar comportamentos alinhados aos nossos sonhos e desejos.

Carlos Higgie, em seu livro CALEIDOSCÓPIO, escreve sobre o resgate da paixão, transcrito em páginas onde imperam as emoções. Intimidade é a palavra mágica a permear o livro, num mundo de encantamento em que se vive para amar e morrer amando, “Quero seus braços me envolvendo, prendendo-me junto ao seu corpo com a suavidade que só tem aqueles que amam”.

Cada palavra, em cada cena, reflete o que cada personagem tem em sua vida para manter o mistério: “Quero que me olhe bem no fundo dos olhos e possa ver o pulsar da minha alma”.

Higgie, com inspiração, reinventa envolvimentos pela de sua maneira artístico-literária de ver o mundo através das fantasias eróticas. Cria o clima apropriado aos amantes com aprimorada arte; transmite os desejos, as carícias e o amor em detalhes que apontam caminhos e soluções para as relações. Com prazer – e sem dó nem piedade, as cenas descritas são flagradas pelo leitor.

Aos olhos do autor, a atração é potencial criativo da paixão que se revela no erotismo, mesmo que algumas vezes possa se misturar com a compulsão, transposta pela vida para a arte literária.

O segredo do autor tem por ingrediente o “apimentar” das relações: o lacre no livro, separando capítulos, traz a expectativa e o sinal vermelho que aciona a curiosidade e envolvimento com a leitura do CALEIDOSCÓPIO. A obra é companhia em que não há proibições formais, pois, “Escrever sobre o amor e o encontro dos corpos é, também, uma maneira lícita de descrever a intensidade da vida humana”.

Compartilhar emoções é modo de digerir o que se lê. Romper velhos padrões de comportamento e abertura para novos horizontes ao sentir o coração bater mais forte.

A leitura de CALEIDOSCÓPIO traz a percepção de que o autor não se perde no transmitir profissionalismo ao descrever a paixão e o erotismo como exercício de liberdade. Adota postura de comprometimento para com a boa literatura ao resgatar – como descoberta – que só amor está no ar, desafiando o leitor a embarcar na aventura erótica com visão aberta a outros/novos convívios entre os amantes, pois, “Quem é capaz de determinar os limites? Tudo está na mente de quem lê e interpreta”.

 

Tânia Du Bois (pedagoga, crítica literária e cronista)

MENSAGEM

Entre em contato.

    Li e aceito os termos de uso e políticas de privacidade do site.

    Todos direitos reservados ® – Editora Damérica